Confira entrevista dada pelo Diretor da Abraisca para a Revista Referência
Luiz Antonio Napolitano Sallada
Graduado em Ciências Contábeis, com especialização em gestão do agronegócio, na Harvard Business School (EUA).
Data e local de nascimento: 03 de Janeiro de 1954 em São Paulo (SP)
Formação Profissional: Diretor Superintendente da Atta-Kill.
Diretor da ABRAISCA (Associação Brasileira das Empresas Fabricantes de Iscas Inseticidas).
Graduado em Ciências Contábeis, com especialização em gestão do agronegócio, na Harvard Business School (EUA).
Fundador e dirigente da Abraisca (Associação Brasileira das Empresas Fabricantes de Iscas Inseticidas) e com ampla vivência em diferentes segmentos do agronegócio, Luiz Antonio Napolitano Sallada é um dos mais respeitados executivos do setor. Começou na Agroceres há 38 anos, como auxiliar de contabilidade e a partir daí teve uma trajetória exemplar, assumindo áreas como controle, planejamento, orçamento, diretoria financeira, diretoria administrativo-financeira e diretoria de relações institucionais. Depois, chegou a vice-presidência da Agroceres e há 3 anos, quando o grupo adquiriu 100% da empresa Atta-Kill, recebeu o desafio de liderar o seu crescimento e diversificação. A Atta-Kill atua com a marca Mirex-S, líder no mercado de iscas formicidas.
Que análise faz sobre o momento florestal?
O Brasil atravessa um momento excelente. O País está crescendo, o setor florestal crescendo mais ainda, e estou convencido da alta competitividade brasileira em reflorestamento. Somos o quarto país em produção de celulose no mundo, estamos com 6,8 milhões de hectares plantados e podemos dobrar isso em pouco tempo. Além disso, temos excelentes empresas crescendo e investindo no setor, o governo está enxergando isso e vem procurando promover incentivos para o segmento, que é um eficaz gerador de divisas para o país. Enfim, temos clima a favor, área de plantio em expansão, produtividade crescente, demanda ascendente e preços remuneradores. Tudo para crescer!
Nesse cenário, como a empresa pretende trabalhar?
Estamos trabalhando muito forte no mercado reflorestador. Já possuímos liderança tecnológica no mercado brasileiro florestal. Uma vez ouvi de um dos mais importantes técnicos florestais do país que existem dois grandes males para floresta: o fogo e a formiga. O primeiro ele sabia combater, mas para o segundo ele precisava de tecnologia e profissionais de alto resultado. A formiga é a grande vilã da floresta.
Estávamos presentes quando as iscas granuladas surgiram no mercado de formicidas e revolucionou o conceito de controle. Mais tarde, trouxemos para o Brasil a sulfluramida, um princípio ativo altamente eficaz e de baixa toxicidade, para substituir a velha geração de clorados. E hoje estamos desenvolvendo o Mipis (micro-porta-isca) para o mercado florestal – uma tecnologia que proporciona um novo patamar de eficiência operacional no manejo das infestações. Sabemos que a produção florestal será um mercado cada vez mais importante para o segmento de iscas formicidas e por isso estamos caminhando lado a lado com os empresários e técnicos das reflorestadoras.
Sobre princípios ativos, existe alguma tecnologia nova?
O controle das formigas cortadeiras exige um princípio ativo adequado. Só para se ter uma ideia, 98% das boas empresas florestais no Brasil trabalham com o princípio ativo sulfluramida, considerado de longe o melhor. Mesmo assim continuamos testando outros produtos técnicos. Posso dizer em nome das empresas que represento na Abraisca, que já testamos mais de 100 princípios ativos em busca de uma alternativa que traga ganhos de eficiência em relação à sulfluramida. Até agora não encontramos uma solução melhor. Lembro, por exemplo, que há uns dois anos comentei com um pesquisador sobre o desafio de se buscar um novo princípio ativo, e ele, de bate pronto, falou para esquecer, considerando-se o horizonte atual da tecnologia química. Mas nem por isso desistimos, e com certeza vamos escrever mais um capítulo nessa história.
Como funciona a metodologia para matar formiga?
Há cerca de 40 anos foi descoberta a metodologia da isca formicida, através da qual é a própria formiga que carrega para dentro do formigueiro o inseticida que vai dar fim à colônia. A grande sacada do produto está nesse fato, tanto que hoje é um processo amplamente difundido e até agora não houve um sistema melhor. Já se testou várias outras formas e metodologias de controle, mas nada se revelou tão eficiente como as iscas. Nós que introduzimos o conceito do Mipis (Micro-Porta-Isca) de plástico no mercado. Depois evoluímos para o Mipis de papel, que mostrava vantagens ecológicas e que foi um desenvolvimento em parceria com a Aracruz. E agora estamos levando ao mercado o Mipis Evolution, um novo micro-porta-isca de papel poliextrusado, que conserva suas tradicionais vantagens ecológicas e agrega novos benefícios operacionais aos tratamentos das infestações.
Essa tecnologia do Mipis protege melhor as iscas no campo, preservando melhor o potencial controlador do produto, e proporciona um manuseio extremamente prático. Isso reduz o custo operacional de controle, mas esse não é o ponto fundamental, pois a isca formicida representa um peso de apenas 0,5% no custo total de produção da celulose. O fundamental do Mipis é que ele agrega eficiência no manejo das formigas e com isso soma para a competitividade das reflorestadoras.
E sobre a qualificação da área?
Esse é um assunto que estamos investindo pesado: treinar. Estamos trabalhando na inovação, treinamento e capacitação dos profissionais do setor. Tem muita coisa que podemos discutir e evoluir, tem cada vez mais gente nova chegando no setor que está trabalhando de forma equivocada, com desperdício, excesso de material e baixo rendimento operacional. Esses profissionais precisam do nosso suporte e, somente neste ano, os nossos técnicos já treinaram e capacitaram mais de 1.500 funcionários das reflorestadoras. Vamos investir cada vez mais nisso e também em princípio ativo, metodologia de controle, embalagem, treinamento e desenvolvimento. Essas são nossas apostas e diretrizes para crescer junto com o mercado.
Como Diretor da Abraisca, qual o seu trabalho à frente da entidade?
Um dos meus principais papéis é ir muito a Brasília, para discutir e mostrar às áreas regulatórias as irregularidades e situações anormais que ocorrem no mercado. Também denunciar produtos irregulares, inapropriados e até falsificados, que ainda são bastante risco para a saúde. Dessa forma, meu trabalho primordial é modernizar e moralizar o mercado de iscas inseticidas, com isso defendendo inclusive o agronegócio e a sociedade, que são levados a consumir muita porcaria. Temos, por exemplo, pelo menos 30% do mercado brasileiro de iscas formicidas sendo atendido por empresas que não têm produtos adequados ou honestos para controlar as cortadeiras. Eliminar formiga, até pisando se elimina; mas acabar como formigueiro é diferente. Exige tecnologia, conhecimento e um bom princípio ativo que é aquele que não mata o inseto no primeiro contato, mas sim depois, já dentro do formigueiro, quando age indiretamente sobre a colônia, eliminando inclusive a rainha. Enquanto não se mata a rainha, o formigueiro continua.
E a fiscalização dá conta da necessidade do setor?
Isso é uma piada. Já fizemos de tudo para que haja fiscalização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), do Ministério da Agricultura e do Ibama, mas a fiscalização ainda é muito fraca. É pouco, o que é um problema estrutural, que muitas vezes, quando ocorre, imploramos e pressionamos, mas a fiscalização é ineficaz, chega na hora e no momento errados. Já pedimos e argumentamos, mas neste aspecto ainda há um longo caminho a percorrer. Outro problema é quanto à aprovação de produtos por parte da Anvisa, que aprova alguns para um determinado objetivo de controle, só que no mercado são vendidos e utilizados para outros fins. Esse não é um problema propriamente da Anvisa, mas sim das próprias empresas proprietárias dos produtos, que os destinam para outros fins de consumo, muitas vezes com riscos à saúde. Sem contar que são produtos paliativos, que não funcionam para solucionar efetivamente o problema das formigas cortadeiras. Mas aqui, neste ponto, retornamos ao aspecto inicial da pergunta, que é a falta de fiscalização.
Parece que as entidades governamentais não dão a importância devida ao assunto?
Já fizemos audiências públicas na câmara dos deputados, audiências junto ao Ministério da Agricultura, com outros ministérios, participamos de vários debates sobre todos esses temas, mas infelizmente nada de mais efetivo foi feito até agora. Ou as áreas responsáveis não têm pessoal suficiente ou a formiga não é um tema de interesse.
Mas não vamos esmorecer. Enquanto tiver saúde, vou brigar pelos nossos interesses, com a finalidade de mostrar que a formiga é uma praga endêmica, um fenômeno quase tupiniquim. A formiga cortadeira, por exemplo, só existe aqui na América do Sul, mais forte aqui no Brasil, e não existe em nenhum outro lugar do mundo.
O que falta para se progredir no marco político. Falta boa vontade, legislação ou pessoal para se aplicar as leis?
É uma mistura de tudo. Falta estrutura para fiscalizar e daí eles miram o que é mais prioritário. Não é culpa exatamente dos ministérios, mas dos gargalos de estrutura que existem há tempos. Temos as leis, mas elas não são respeitadas e aplicadas. Devagarzinho estamos conseguindo sensibilizar as pessoas e conquistar apoio em órgãos importantes como o Ministério da Agricultura, a câmara dos deputados e a frente parlamentar.
No momento também temos uma representação civil junto à Procuradoria da República e dentro do TCU (Tribunal de Contas da União), perguntando e pedindo para os órgãos do governo para nos responder o porquê que eles não agem para identificar a diferença entre os produtos fitossanitários e domissanitários.
Esse problema também afeta o mercado florestal?
No reflorestamento existe algo muito positivo. Os técnicos e profissionais do setor são qualificados e têm boa orientação. O mercado florestal se auto-protege. Produto ruim, posso garantir, se alguém usar, vai ser uma vez só. Ele pode até não utilizar Mirex-S, mas certamente vai usar o produto de uma das empresas associadas à Abraisca, que compõem 98% do mercado e são organizações compromissadas com a moralização do setor.
A frase é atribuída a Monteiro Lobato: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”. Podemos dizer que essa guerra já vencemos?
Vou parecer um pouco marqueteiro, mas é a pura verdade. Estamos vencendo devido à sulfluramida. Se não fosse isso, a saúva estaria vencendo e teríamos prejuízos de bilhões de dólares. Temos dados sobre os danos que a formiga cortadeira causa em áreas reflorestadas ao longo dos anos e, como não sou técnico, vejo esses números pelo que representam em valor e posso dizer que são assustadores. Existem formigueiros que têm o tamanho de um prédio de 5 andares. Outro dado relevante é que as formigas são o principal foco de infecção hospitalar no Brasil e as pessoas não têm a dimensão de como são maléficas, por esse aspecto. São elas que transportam as infecções dentro dos hospitais. Quando as pessoas se deparam com uma barata, logo caem em cima para matar; mas, se for uma formiga, chegam a desviar para não pisar. Mas as formigas são tão prejudiciais para as pessoas quanto outras pragas.
Quando começou a ter o contato com o setor florestal?
Como executivo do Grupo Agroceres, acompanho o setor florestal há pelo menos duas décadas, só que agora, depois que assumi a Atta-Kill, estou envolvido com o tema 24 horas por dia. É um mercado extremamente dinâmico, que cresceu muito nos últimos 10 anos. Aos poucos, fui conhecendo suas necessidades, suas forças competitivas, suas visões de longo prazo, e hoje sou um grande apaixonado pelo segmento, para o qual precisamos atrair cada vez mais investidores internacionais, consolidando a integração global de nosso setor florestal.